A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) é uma Perturbação do Neurodesenvolvimento, significando, por isso, que algumas áreas do cérebro não se desenvolvem de forma adequada. É um erro comum falar-se apenas em “Autismo” quando, na verdade, se trata de um Espectro composto por uma grande variedade de sintomas, que variam na sua intensidade, nas áreas da Comunicação Social e dos Comportamentos restritos e repetitivos.
A PEA é causada essencialmente por fatores genéticos, havendo também a probabilidade, embora reduzida, de ser causada por fatores ambientais (doenças congénitas, uso de drogas ou medicamentos com alto potencial tóxico durante a gestação, prematuridade).
Segundo um estudo publicado em 2018 pelo Center for Disease Control and Prevention (CDS) esta Perturbação afeta 1 em cada 59 crianças.
A PEA tende a surgir nos primeiros três anos de vida da criança e manifesta-se através da linguagem, das interações sociais, da imaginação e dos comportamentos.
No entanto, é importante relembrar que: não há um padrão específico quanto à forma como a PEA se manifesta, sendo cada criança única e, como tal, também não há uma idade determinada para o surgimento dos primeiros sintomas e os mesmos podem variar a sua intensidade e severidade. Ainda, é necessário que saiba que se o seu filho apresente alguns dos sintomas que iremos descrever, não significa automaticamente que ele tenha uma PEA, uma vez que muitos dos comportamentos podem ser consequência de outros problemas.
Assim, nas próximas tabelas descreveremos os sinais de alerta que poderão surgir ao longo do desenvolvimento da criança.
Idade da criança |
Sinais de alerta |
4 meses |
- Não apanha objetos que se estejam a mover à sua frente;
- Não sorri para as pessoas;
- Não leva as mãos ou os objetos à boca;
- Não emite sons;
- Não consegue suster a cabeça;
- Regressão: perda de habilidades que já havia adquirido.
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6 meses |
- Tem dificuldade em olhar quando chamado pelo nome;
- Não responde a sons emitidos próximo dela;
- Não emite pequenas vocalizações;
- Não demonstra afeto pelos familiares;
- Não tenta apanhar objetos que estão ao seu alcance;
- É agitada ou, pelo contrário, demasiado passiva;
- Pode não gostar de ser tocada e/ou abraçada;
- Vai ao colo de qualquer pessoa sem protestos;
- Sorri pouco, parecendo ser demasiado séria;
- Utiliza poucas expressões faciais face a diferentes contextos;
- Não aponta;
- Não parece ter interesses sociais;
- Regressão: perda de habilidades que já havia adquirido.
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9 meses |
- Não se consegue sentar, mesmo com auxílio;
- Não balbucia;
- Não reconhece o próprio nome quando o ouve;
- Não reconhece pessoas familiares;
- Não olha para onde apontamos;
- Não passa os brinquedos de uma mão para a outra;
- Não responde às tentativas de interação;
- Regressão: perda de habilidades que já havia adquirido.
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12 meses |
- Não gesticula, aponta ou balbucia;
- Não faz contato visual com as pessoas;
- Não gatinha;
- Não fica de pé, mesmo quando é segurada;
- Não procura objetos que vê que foram escondidos;
- Não diz palavras como “mamã” e “papá”;
- Não entende comportamentos como “dizer adeus”;
- Não aponta para objetos;
- Regressão: perda de habilidades que já havia adquirido.
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18 meses |
- Não consegue andar;
- Não consegue dizer pelo menos 6 palavras;
- Não aprende novas palavras;
- Não consegue expressar o que quer;
- Não aponta para mostrar algo;
- Parece não se importar com a aproximação ou ausência dos cuidadores;
- Não consegue imitar comportamentos;
- Regressão: perda de habilidades que já havia adquirido.
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2 anos |
- Dificuldade no contato ocular;
- Não responde quando chamada pelo nome;
- Não evidencia expressões de afeto e prazer;
- Não aponta;
- Não mostra e/ou partilha interesses;
- Não formula frases funcionais com duas palavras (ex: quero água) sem ser por imitação;
- Não copia ações ou palavras;
- Não segue instruções simples;
- Não anda equilibradamente;
- Não sabe como utilizar de forma adequada determinados utensílios (ex: telefone, escova do cabelo);
- Prefere brincar sozinho;
- Não utiliza os brinquedos de forma apropriada;
- Prefere objetos brilhantes ou que façam movimentos repetitivos;
- Falta de reciprocidade social;
- Pode começar a apresentar movimentos estereotipados e repetitivos com objetos e/ou partes do corpo (mãos, pés, dedos);
- Regressão: perda de habilidades que já havia adquirido.
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3 anos |
- Ao andar, cai muitas vezes;
- A linguagem expressiva é muito pobre ou incompreensíveis;
- Não compreende ordens simples;
- Não consegue brincar ao “faz de conta” ou com brinquedos simples (ex: legos);
- Não demonstra interesse em brincar com outras crianças;
- Regressão: perda de habilidades que já havia adquirido.
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4 anos |
- Não brinca com outras crianças;
- Interage com poucas pessoas e de forma pobre;
- Tem dificuldades em falar;
- Não compreende ordens simples;
- Não utiliza os pronomes “tu” e “eu” de forma correta;
- Tem dificuldade em fazer desenhos;
- Regressão: perda de habilidades que já havia adquirido.
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Crianças mais velhas e adolescentes |
- Isolamento social;
- Passividade;
- Pouco interesse pelas relações sociais;
- Pode ser muito ativo na procura de contatos, mas de forma desadequada (ex: não respeitando o espaço interpessoal do outro);
- Dificuldades ao nível da empatia;
- Desinibição social;
- Não tem amigos preferidos;
- Dificuldade em estabelecer um diálogo recíproco;
- Evita ou fixa demasiado o olhar;
- Dificuldade em compreender as expressões faciais;
- Dificuldade em compreender a linguagem corporal dos outros;
- Dificuldade em compreender pistas sociais.
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Os sinais de alerta acima descritos servem para isso mesmo: alertar os pais e técnicos que acompanham a criança de que algo poderá não estar bem, pelo que deverão recorrer a ajuda especializada com o intuito de avaliar o caso. O diagnóstico da PEA deverá ser feito por um técnico certificado, nomeadamente o Psicólogo Clínico e do Neuropsicólogo que irá fazer uma recolha detalhada da história clínica e pessoal da criança, bem como observar a criança em contexto clínico e proceder à aplicação de testes e escalas.
Embora seja verdade que não nos devamos alarmar, também é verdade que os sinais de alerta não devem ser ignorados, uma vez que a PEA fica muitas vezes sem intervenção nos primeiros anos de vida, anos esses fundamentais para uma adequada intervenção e com maior eficácia.
Psicóloga Stephanie Costa
Referências:
Freire, T., & Teixeira, A. (2014). Psicologia e psiquiatria da infância e adolescência.
Gaiato, M. (2018). SOS Autismo: Guia completo para entender o transtorno do espectro autista. nVersos.
Gaiato, M., & Teixeira, G. (2018). O reizinho Autista: guia para lidar com comportamentos difíceis. nVersos.
Lima, C. B., Leyv, P. Q., & Lima, C. B. (2015). Perturbações do neurodesenvolvimento-Manual de orientações diagnósticas e estratégias de intervenção. Lidel-edições técnicas, Lda.
Williams, C., & Wright, B. (2008). Convivendo com autismo e síndrome de Asperger: estratégias práticas para pais e profissionais. São Paulo: M. Books do Brasil.
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