Será o meu filho demasiado novo para fazer Terapia da Fala?

Será o meu filho demasiado novo para fazer Terapia da Fala?

De acordo com o Decreto-Lei no 564/99 de 21 de dezembro em Portugal, ao Terapeuta da Fala (TF) compete a produção de atividades no domínio da prevenção, avaliação e intervenção no âmbito das perturbações da comunicação humana, compreendendo todas as funções relacionadas com a compreensão e expressão da linguagem escrita e oral, bem como todas as possíveis formas de comunicação não-verbal.

A ASHA (2016) refere que o TF tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos indivíduos de todas as faixas etárias, desde o recém-nascido até ao idoso, potencializando as competências de comunicação e deglutição.

O TF no seu dia-a-dia é questionado muitas vezes pelos próprios pais se as crianças não são demasiado novas para iniciarem terapia, referindo muitas vezes que terá tempo para crescer e para desenvolver as suas competências comunicativas e linguísticas. No entanto, é possível entender desde muito cedo alguns sinais de alerta que nos permitem identificar dificuldades que necessitam de intervenção para que mais tarde, não sejam um problema no desenvolvimento social, pessoal e escolar daquela criança. Ou seja, a idade não é um fator de exclusão para a Terapia da Fala. O mais importante são as dificuldades que a criança apresenta, ou não, sendo este o fator de inclusão ou exclusão.

Apesar de cada criança apresentar um próprio ritmo de desenvolvimento, entre os 0 e os 3 anos, as crianças adquirem e estruturam as bases da linguagem, sendo por isso, um período de extrema pertinência para a deteção de possíveis sinais de alerta. Estes sinais de alerta são possíveis de identificar através de instrumentos de avaliação, sendo por isso imprescindível a existência destes no processo de avaliação (Silva, 2014).

A partir do momento em que é realizada uma avaliação e as dificuldades são identificadas, se for necessário, deve ser iniciada a intervenção. Quanto mais precocemente estas dificuldades forem trabalhadas, menos impacto terão no futuro desta criança e no seu sucesso escolar. Por exemplo, se uma criança com quatro anos apresenta dificuldades fonológicas (noção de rima, segmentação de palavras) estas devem ser colmatadas antes da entrada para o primeiro ciclo, pois aparecerão muitas dificuldades na aquisição da leitura e da escrita.

Também existem exceções como os casos das crianças bilingues. Estes apresentarão naturalmente um atraso no desenvolvimento da Linguagem e alguma confusão entre os dois (ou mais) códigos linguísticos. Nestes casos, é necessário dar tempo à criança porque encontra-se a desenvolver dois sistemas linguísticos, em simultâneo. Este eventual atraso de desenvolvimento de Linguagem, posteriormente será colmatado e a criança deverá situar-se no mesmo nível que os seus pares.

Para além disto, é importante referir que a maioria dos profissionais de saúde regem-se por uma intervenção holística, em que a intervenção não é apenas realizada com a própria criança, mas também com o meio (jardim de infância, escola) e interlocutores (família) que fazem parte do seu dia-a-dia, sendo envolvidos no processo terapêutico. Este envolvimento pode partir do esclarecimento de dúvidas, munição de estratégias e atividades que poderão ser realizadas em casa ou na sala de aula. Deste modo os pais sentem-se mais aptos para ajudar as suas crianças através de jogos e atividades.

Após tudo isto, serão apresentados alguns sinais de alerta que devem ser tidos em conta no desenvolvimento comunicativo e linguístico das crianças, nomeadamente:

 

Crianças entre os 2 e os 3 anos:

  • Não utiliza palavras isoladas;
  • Produz apenas uma sílaba na maioria das palavras;
  • Não forma frases com mais de 2 elementos;
  • Apresenta um discurso totalmente ininteligível e incoerente.

Crianças entre os 3 e os 4 anos:

  • Apenas faz uso de frases simples;
  • Conhece o nome de poucos objetos;
  • Apresenta um discurso ininteligível para estranhos;
  • Utiliza mais gestos que palavras;
  • Não compreende ordens com “muito/pouco”.

Entre os 4 e os 5 anos:

  • Utiliza vocabulário pouco diversificado;
  • Troca alguns sons;
  • Apresenta um discurso incoerente;
  • Tem dificuldades em contar histórias do dia-a-dia ou em recontar histórias;
  • Não responde a perguntas com “Porquê?” ou “Como?”;
  • Não realiza perguntas.

Crianças maiores que 6 anos:

  • Troca ou omite sons quando fala;
  • Não produz frases complexas;
  • Utiliza frases agramaticais;
  • Repete sílabas e palavras (gaguez);
  • Apresenta dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita;
  • Não compreende o que lê;
  • Não articula corretamente as palavras

Sofia Piedade
Terapeuta da Fala

Sem Comentários

Leave a Comment

Your email address will not be published.