O que é a Perturbação da Deglutição?
Desde muito cedo, o ser humano adquire a habilidade de engolir. Este ato começa a desenvolver-se quando o bebé ainda está no útero materno e é repetido milhões de vezes ao longo da vida, quase sempre de forma inconsciente. A este ato de engolir chama-se deglutição e é um processo complexo que envolve vários músculos e pares cranianos, comandados pelos centros cerebrais, a trabalhar de forma coordenada e cuja integridade é fundamental para que a deglutição decorra normalmente. Uma boa deglutição deve transportar os alimentos (líquidos e/ou sólidos) de forma segura, desde a boca até ao estômago.
Apesar deste ser um processo contínuo, é dividido em três fases (oral, faríngea e esofágica) que envolvem várias estruturas.
A fase oral é a única voluntária e caracteriza-se pela passagem do bolo alimentar da boca para a orofaringe; a fase faríngea é involuntária e caracteriza-se pela passagem do bolo alimentar da orofaringe para o esófago; a última fase é a esofágica onde o bolo alimentar é transportado do esófago para o estômago.
Existindo qualquer alteração neste percurso (por exemplo: quando engolir líquidos provoca engasgamento), podemos estar perante um quadro de Disfagia: do grego “Dys” (dificuldade) e “fagia” (comer), é uma perturbação da deglutição, que pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequente na população idosa devido à redução da funcionalidade de vários órgãos e sistemas do organismo. O tipo de disfagia depende do local onde a alteração ocorre.
Sinais e sintomas de disfagia:
- Perda de peso significativa e inexplicável em pouco tempo;
- Dor ao engolir;
- Sensação de alimento preso na garganta;
- Engasgos frequentes e/ou falta de ar durante as refeições/ingestão de líquidos;
- Voz alterada ou rouca após a ingestão de alimentos;
- Tosse frequente durante e após as refeições;
- Infeções respiratórias/pneumonias de repetição.
As dificuldades em deglutir trazem consequências muito negativas para a qualidade de vida pois, para além das alterações graves a nível da saúde, podem afetar a socialização do individuo, limitar o prazer associado à refeição e influenciar a sua autoimagem. Além das complicações descritas, provoca um aumento da mortalidade. Como referido anteriormente, é mais frequente nos idosos, podendo ocorrer pelo próprio processo de envelhecimento, ser uma consequência de tumores de cabeça e pescoço ou ser um sintoma comum em doenças neuromusculares e/ou neurodegenerativas (Doença de Parkinson, Alzheimer, Huntington, Acidente Vascular Cerebral, Paralisia Cerebral, Esclerose Múltipla, etc.).
No caso de haver suspeita de alguma alteração na deglutição, deve consultar o seu médico. O diagnóstico e tratamento deve ocorrer por uma equipa multidisciplinar especializada, da qual faz parte o Terapeuta da Fala. Este é responsável pela avaliação das estruturas envolvidas no processo da deglutição e pela intervenção através de reabilitação de estruturas (exercícios para estimular e adequar a musculatura ineficiente), alteração de posturas e adaptação dos alimentos (consistência, volume, temperatura, etc.). O principal objetivo do trabalho desenvolvido é garantir uma deglutição segura e eficaz, minimizando o impacto negativo na qualidade de vida dos indivíduos.
Cátia Miranda e Mariana Cacela
Terapeutas da Fala
Sem Comentários